“O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios”.
Por: Rossandro Klinjey
Certo dia fui levar meu avô para fazer sua caminhada matinal. Quando desci do carro, percebi que ele estava com meias e sandálias havaianas, uma bermuda xadrez e uma camisa listrada de botão, bem diferente de mim que estava com um tênis que combinava com a bermuda, com a camiseta e até com a pulseira do relógio. Então perguntei indignado: - Vô! Que roupa é essa? Ao que ele respondeu sorrindo: - Meu filho, na minha idade a gente se preocupa com o nosso conforto, já na sua, a preocupação é com a opinião dos outros.
Na época eu já estava com trinta anos e meu avô com 83. Foi naquele momento que tive a prova viva do que vinha estudando em muitas pesquisas sobre crescimento emocional, as quais preconizam a tese de que se a maturidade nos trás o ônus da perda de vigor físico, por outro lado nos recompensa com a leveza de uma vida mais interior, e menos angustiada em satisfazer os padrões sociais. Para muitos pesquisadores, é a partir dos 50 anos que começamos a experimentar mais conscientemente a felicidade e a suavidade da vida.
E a tão decantada juventude, com seu vigor e beleza, é também uma época de muitas angústias, tensões, conflitos e desafios. Uma fase da vida na qual negligenciamos nossas necessidades mais íntimas, tudo para sermos aceitos e não entrarmos em desacordo com as normas dos grupos dos quais fazemos parte.
Vivemos, em nosso país, uma mudança na expectativa de vida que nos tem feito se aproximar dos índices dos países desenvolvidos, e já percebe-se também uma busca, não apenas por viver mais, mas por viver melhor, com qualidade de vida.
Agora os cuidados não são de uma busca de juventude eterna, que sabemos impossível, mas de retardar, e isso já é possível, os efeitos físicos do envelhecimento, aproveitando a maturidade que o tempo nos trás com a saúde, o que nos permite conciliar o melhor das duas fases da vida.
Antes dos trinta anos, minha música predileta era “Meu Mundo e Nada Mais” de Guilherme Arantes. Num de seus trechos ele diz: “quando fui ferido vi tudo mudar das verdades que eu sabia”. De certa forma para mim soava como a música de alguém machucado pela vida, que sofreu, enfim, da vítima. Presentemente, a maturidade que vem chegando, tem me permitido ver a vida de uma perspectiva mais serena, de uma existência não de apenas de lutas e dores, porém, sobretudo, de aprendizado. É por isso que minha música predileta hoje é “Tocando em Frente” de Almir Sater e Renato Teixeira, especialmente quando diz: “ando devagar porque já tive pressa, e levo esse sorriso porque já chorei demais, cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz”.
Eu sei que existem muitos “adultecentes”, adultos que não aproveitam uma das melhores coisas da vida, a maturidade emocional, posto que esta não é necessariamente correspondente à idade. Mas, sempre é tempo de se permitir amadurecer, que nada mais é do que uma espécie de renascimento.
A escritora belga Marguerite Yourcenar, pode nos ajudar a compreender melhor esse renascimento. Entre tantas obras que publicou, destaco um livro de 1983, intitulado “O Tempo, Esse Grande Escultor”. Numa de suas frases mais conhecidas ela afirma que “O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios”. Esse “olhar de inteligência” é a maturidade, que nos permite observar sob ângulos mais lúcidos todos os aspectos da nossa vida.
Rossandro Klinjey é Psicólogo Clínico
Fonte: http://paraibaonline.com.br
Olá amiga. Linda postagem. Posso perceber cada um desses detalhes na minha vida diária. Hoje posso dizer que antes da partida de minha filha para o Mundo Espiritual, ainda tinha muito de "adultescente". Beijos.
ResponderExcluirOi Rejane,
ResponderExcluirVoltei para o meu blog, andei meio que perdida nos estudos, mas sempre vou deixar uma mensagem pequena que for para alimentar a possivel arte de cuidar...sempre!
Abraços