Estava decidida a arrancar a
planta inútil. Comprada em lugar
especializado, escolhida entre outras mais,
para ficar ao lado do flamboyant de
jardim, simplesmente ela se manifestara
como uma grande decepção.
Em quase um ano de plantada
e regada a contento, mantinha-se feia,
escassa, desfolhada, sem a profusão de
cachos brancos que uma similar, exposta
no mesmo canteiro, prometia e anunciava.
Enfim, um fracasso. Chegava a envergonhar
o conjunto, tão disforme e depenada
ao lado da árvore principal, que se
manifestava festiva, em bagos que se
abriam em caramanchões de amarelo.
Resolvi, de pronto, sacrificá-la,
ainda tão irrelevante, dentre as primícias
do novo reino. Puxei-lhe o caule,
aparentemente frágil. Outra vez e outra
mais, com mais esforço a cada uma.
Nada. Recusava-se a sair do chão.
Parecia muito enraizada, apegada, resolvida.
Desisti.
Não sei quanto tempo depois,
a revelação: começaram a pipocar cachos
novos, alternativos inclusive ao tronco
principal, ainda tão esguio. Cachos de flores
miúdas, muito brancas, muito lindas.
Enfrentou o primeiro inverno
depois da metamorfose, com galhardia e
destemor. Suportava chuvas intensas, que
lhe vergavam os tenros galhos, em
cujas pontas as flores miúdas se
faziam pesadas demais para serem carregadas
assim, tão molhadas. E, no começo do
novo verão, com alguma aguação meio
descuidada, continuou o seu progresso,
espessando tronco e multiplicando ramos e
cachos e flores.
Não tem nome a planta, nem
na casa de jardinagem souberam dize-lo.
Chamo-a de pipoca. Tão linda, tão
delicada e tão forte. Já não faz
vergonha junto ao pequeno flamboyant amarelo.
Ao invés. Combinam. Fazem par,
entrelaçam-se em harmonia.
Uma vez, neste mesmo jardim,
aconteceu com a jabuticabeira. Plantada ao
mesmo tempo que as outras árvores
frutíferas, já crescidas e prontas para
a maturidade precoce, ela não reagia
aos cuidados, aos muitos banhos, às
costumeiras podas. Disse eu então,
na frente das outras, elogiando as
flores perfumadas da laranjeira : Esta
jabuticabeira não agradece nada !!!
Como por encanto, pouco tempo
depois, ela começou a cobrir-se de
nova folhagem encorpada e abundante . . . e
sem avisar, veio a penugem branca, os
frutos verdes, que, de ora para
outra, materializaram-se em belas e
deliciosas jabuticabas . . .
Nas duas vezes, os acontecidos
foram absolutamente espontâneos. Fui sincera
com elas. Responderam do seu modo,
que me causaram profunda emoção e prolongada
meditação . . .
Será assim também com as
almas humanas? Ou, ao menos, com
algumas delas ?
Algumas negam resposta, deixam-se
arrancar como se fossem mesmo inúteis
e inexpressivas, dos jardins da vida.
Outras, estimuladas pelo desafio ou pelo
perigo, ou mesmo pelo insulto, reagem
com florescimento, frutificação e beleza . . .
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Rejane