Ao encontro com a sombra
A sombra, tal como Robert Bly refere, pode ser comparada a uma comprida sacola que arrastamos atrás de nós.
Começamos a encher a sacola desde a infância. Logo com 1 ou 2 anos, a
criança é como se fosse um arsenal de emoções e possibilidades de
atitudes diversas, esperando espalhar esse mundo em todas as direções.
Assim que os pais começam a reprovar alguns comportamentos dizendo
frases como “um bom menino não bate no irmãozinho”, “pare de correr”,
“fique quieto”, "engula o choro" as crianças passam a buscar, então, um
comportamento que seja condizente com o que os pais querem e, para
tanto, reprimem aquela energia de raiva, ou de inquietação, que
poderiam significar prazer e reprimem os impulsos espontâneos... As que
não reprimem, apenas sentem-se culpadas por ter “agido mal”.
Com
o tempo as emoções genuínas e sua expressão começam a ter que ser
julgadas e separadas em certas ou erradas, boas ou más, e a sacola vai
se enchendo mais e mais, pois, como observa Robert Bly:
“Atrás
de nós temos uma sacola invisível e, para conservar o amor de nossos
pais, nela colocamos a parte de nós que nossos pais não apreciam.”
Além
dos nossos pais, nossa experiência na escola acaba por ajudar a encher
mais ainda nossa sacola, quando ouvimos “Meninas inteligentes não devem
fazer assim", ou “quem sai dos padrões de aparência física tem que
mudar", aí novamente estamos diante dos valores que não foram
construídos a partir das nossas escolhas e verdades...
São
marcados a partir das referências das figuras que temos como modelos,
porque é importante ter o afeto delas. Por exemplo, é normal uma
criança sentir raiva, mas diante dos valores que aprendeu de que “é
feio ter raiva”, se sente culpada, diminui a importância do sentimento
diante de muitas situações e o coloca rapidinho na sacola, porque não
quer perder o amor da mãe.
Assim, vamos arrastando nossa
sacola pela vida afora, inicialmente quando levamos as referências de
valores dos nossos pais, e mais tarde quando associamos estas já
apreendidas às referências da sociedade apreendidas na escola, no
convívio com nossos amigos, grupos sociais e religiosos.
Diante
desta sacola o conflito aparece, justamente, porque nem tudo que
aprendemos ser “errado ou mau” são, na verdade, essas duas coisas. E
isso é que faz com o que o material da sacola comece a “cheirar mal” e
a nos incomodar, porque de tempos em tempos, percebemos sinais do poder
e da importãncia que essas emoções escondidas poderiam ter em nossa
vida.
A dimensão da sombra é gigantesca nos adultos. A sacola
aumenta proporcionalmente à quantidade de censura relativa aos nossos
sentimentos naturais e espontâneos.
Energias naturais do ser
humano tais quais sexualidade, impulsividade, agressividade, raiva,
ódio, revolta são, normalmente, colocadas na sacola durante toda uma
vida.
Aqui existe outro elemento: quanto mais guardamos essas
energias, mais e mais intensas e latentes se tornam. Ficam como se
fermentassem lá dentro de nós, e quando não colocadas para fora, acabam
gerando a mais ampla gama de doenças e sintomas.
Conforme os
anos passam e este conteúdo sombrio cresce, tende a ser maior a
dificuldade de entrar em contato com ele. Por isso, muitas pessoas
quando começam a envelhecer, sentem muito medo de abrir a sacola, como
se o conteúdo dela fosse invadir sua vida e causar danos, mas na
verdade esse conteúdo já os assombrava há tempos...
Existe muito medo dentro de nós de olhar para o que já foi guardado.
Por isso enxergamos muitas dessas coisas nos outros.
“Peça
para um amigo lhe descrever o tipo de personalidade que ele acha mais
desprezível, mais insuportável, mais odiosa e de convívio mais
impossível; ele descreverá as suas próprias características reprimidas
– uma autodescrição do que é absolutamente inconsciente e que,
portanto, sempre o tortura quando ele recebe seu efeito de uma outra
pessoa. Essas mesmas qualidade são tão inaceitáveis para ele
precisamente porque elas representam o seu próprio lado reprimido; só
achamos impossível aceitar nos outros aquilo que não conseguimos
aceitar em nós mesmos. Qualidades negativas que não nos incomodam de
modo tão intenso ou que achamos relativamente fácil de perdoar , em
geral não pertencem à nossa sombra.”
Mas, quando estamos
procurando nos conhecer realmente e amadurecer emocionalmente, a sacola
precisa ser aberta para liberarmos a energia desses sentimentos e
emoções que armazenamos durante anos.
Esta sacola pode ser
aberta, percebida e assimilada, o que, por sua vez, propicia que seu
potencial destruidor e conflitivo possa ser reduzido e a energia vital
que estava aprisionada possa ser liberada, gerando mais tranqüilidade e
equilíbrio emocional.
Nossa “pressão interna” ou “fermentação” irá diminuir.
Conhecendo
o que guardamos inconscientemente por tanto tempo, podemos fazer
escolhas mais sensatas a respeito de novamente empurrar ou não para
nossa sacola sentimentos que precisam ser compreendidos e aceitos como
parte de nossa natureza humana.
Assim, fica mais simples celebrar o que é espontâneo e natural na vida, fica mais simples exercitar nossa possibilidade de SER!
Robert Bly
Fonte: http://www.teias.com.br/
somos isso mesmo :) a nossa sombra, o nosso passado ...que vai envhendo a sacola :)
ResponderExcluirbj
teresa
Rejane, somos sombra também,que belissimo texto! adorei...bjosss
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