Ciúme: prisão sem grades
Jácome Góes
Não sei se este é exatamente o seu caso, mas na verdade há muitas pessoas que se tornam carcereiras de si mesmas, numa sufocante prisão que limita os subjetivos horizontes da esperança, mutilando sonhos e interceptando os caminhos para a plena vivência da felicidade. Sofrendo um mórbido processo auto-obsessivo de estreita codependência afetiva, entregam-se submissas a um vórtice de angústias, ampliando tristezas e inviabilizando alegrias no curso da vida que se faz sombria pelo eclipse da luz nos espaços da própria alma...
Há quem usa o recurso da metáfora para dizer que ciúme reflete amor, consolidando a união. Concordo, sim, em termos, desde que seja observada a referência da disciplina como vertente da harmonia.
Tudo que se distancia do equilíbrio causa sérios danos em todos os níveis e circunstâncias. A vida leciona esta incontestável verdade na escola do mundo, mas nem todos a assimilam.
Eis aí mais uma causa geradora de profundos desencantos e marcantes desalentos, pois sem autonomia íntima para gerenciar emoções, fica extremamente difícil impedir a avalanche de desilusões.
A insegurança pessoal que sempre desencadeia baixa auto-estima, gera ansiedade em expressões quase compulsivas e também o incontido desejo de posse, fazendo vítimas o emissor das vibrações e a quem estas são dirigidas.
O sofrimento deixa indeléveis marcas que perduram destruindo as mais remotas perspectivas de paz e, consequentemente, de felicidade...
O medo de perder
o outro preside a amargura que se espalha como metástese infecciosa nos “tecidos” da alma. Esta é uma dolorosa experiência que tem sua causa na mais triste forma de imaturidade psicológica... A ciência moderna, analisando a complexidade humana, classifica o ciúme doentio como um “transtorno de instabilidade neurótica”, com evidentes repercussões psicofisiológicas.
A vítima pune a si mesma de forma recorrente, acreditando que está sendo preterida, e cria uma antevisão de abandono. Atormentado (a) pelo estigma da desconfiança, sente-se traído (a), não se conformando com a injustiça. Esta torturante certeza tem como ponto de apoio a própria imaginação que tem a capacidade de transformar em real o irreal e vice-versa.
E é assim, presas a fantasias formadas por pensamentos delirantes, que muitas pessoas ampliam insuportáveis estados de tensão, vivendo (?) num elevado nível de estresse que as incapacita tornando-as totalmente impotentes para monitorar, com equilíbrio, a própria vida... Tudo se torna sombrio, sem sentido, e daí para ser instalada a depressão é apenas um passo no círculo de um labirinto que aprisiona, causando insuportáveis níveis de tensão.
Se não houver um resquício de bom senso para estabelecer um corajoso desafio na dinâmica da autoproteção, gera-se o caos em termos de atitudes compulsivas, condicionando um mórbido estado de completa passividade e ostensiva omissão...O relacionamento sofre o impacto criado por agressivas acusações que se multiplicam sem limites, e que são acrescidas por cobranças as mais incoerentes, já que a desconfiança é a causa embrionária de todo o conflito.
Este ciúme patológico que ultrapassa os limites do discernimento pode levar suas vítimas a cometerem atos de extrema insanidade, deixando marcas indeléveis de autodestruição, que restringem ou anulam o poder da razão...
Estados graves que revelam acentuada forma de psicose com transtorno obsessivo destroem a esperança de união que deveria ser mantida pelo respeito mútuo e pela confiança recíproca.
Se não há nenhum flagrante de real infidelidade, por que, então, criar tanto desgaste íntimo e relacional ?
E se existe algum fato que evidencia traição, o caminho certo deve ser o do diálogo para determinar o fim sem traumas, cada um seguindo o próprio caminho em busca da felicidade.
Assim agem as pessoas sensatas, inteligentes, que não se deixam envolver pelo vórtice da emocionalidade.
Com mais experiência, e sem complexos de inferioridade, buscam outras conquistas, visando à comemoração do verdadeiro amor; assim considerado aquele que alimenta a paz, fortalece a confiança, nutre a alegria e consolida a felicidade! Assim agem os que se tornaram sábios porque através do pleno cultivo do auto-amor descobrem o sentido da vida na expressão mais legítima do seu inestimável valor!
Ciúme? Que tal amar mais a si mesma?
Todos os homens e mulheres possuem uma necessidade igual de amor Mas quando começa haver falta de intimidade, diálogo, amizade, cumplicidade, respeito, sentimentos básicos dos relacionamentos, sente-se que esse amor pode estar correndo riscos, sendo natural surgir a insegurança e com ela, o ciúme, como uma tentativa de preservar aquilo que não se quer perder. O ciúme atinge homens e mulheres.
Dizem que é mais comum no sexo feminino, talvez seja porque a mulher demonstre muito mais o que sente, sem se esconder atrás de máscaras e defesas. Falam hoje de ciúme como se a pessoa se tornasse doente do nada, e não é bem assim que acontece. O ciúme não começa do nada, há todo um processo como em qualquer doença.
Primeiro começa haver um afastamento, acúmulos de mágoas, as desculpas para não fazerem juntos o que antes era feito, não há mais demonstrações de amor, interesse pela vida do outro e/ou do casal, gerando muita insegurança. “Geralmente, por trás de uma manifestação de ciúme, há um apelo para o amor.” Com o tempo, isso vai somando-se e começa a surgir a necessidade natural de se entender o que está acontecendo. Geralmente há uma tentativa de conversa, onde a resposta em geral é: nada, nada está acontecendo! Ninguém muda seus comportamentos por “nada”.
Mas por qual motivo o ciúme começa na relação? A melhor forma de tirar uma pessoa do controle é a incoerência, ou seja, demonstrar um sentimento e sentir outro. Começa então o desejo de agradar mais o parceiro, como se fosse culpada do que está acontecendo. É nesse momento que começam as cobranças, o controle, numa tentativa, de trazê-lo de volta. O medo da traição começa a perturbar como se as imagens de sua mente fossem reais. O outro, sentindo-se cobrado, pressionado, afasta-se ainda mais, despertando insegurança e ciúme. É aí que começa uma bola de neve, quanto mais um se afasta, mais o outro tenta se aproximar.
O ciúme surge quando se sente que não é mais importante para o outro, é uma sensação de ser preterida, como se seus sentimentos não tivessem mais valor. Além do que, o ciúme humilha, esmaga, dói, por isso talvez seja tão difícil admiti-lo. E quem não admite que tem um problema continua se auto-destruindo e destruindo a relação. Não confiar no amor da pessoa amada equivale a não confiar no próprio valor.
É claro que quem já era insegura por não confiar em si, não acreditar que alguém possa amá-la, sente um medo terrível do abandono, pois sua carência faz com que tenha uma auto-imagem muito negativa, reforçando o medo de que qualquer pessoa poderá afastar a pessoa amada. É o retrato da co-dependência, uma síndrome que tem como um dos sintomas o medo de ser abandonada. Assim, terá menos estrutura de lidar com a situação, levando ao total desespero e descontrole, trazendo muitas vezes à tona conflitos não resolvidos.
Porém, uma pessoa que já era insegura, se tiver um relacionamento com alguém amoroso, que seja capaz de suportar seus sentimentos e suprir suas necessidades, pode com o tempo, perceber-se como alguém digna de amor e respeito, conseguindo aos poucos reparar suas feridas emocionais e traumas vividos, tornando-se uma pessoa mais segura de si.
O que é importante entender é que o ciúme é muito mais um sintoma do que uma causa, pois geralmente, por trás de uma manifestação de ciúme há um apelo para o amor que pode ser o amor e a atenção do outro, mas que na verdade, representa a busca pelo amor por si mesma. Como não há a consciência disso, continua acreditando que só existe através do outro.
Não seria melhor que as pessoas usassem mais da verdade em suas relações? Não ama mais, não deseja mais? Por que não falar? Por que deixar o outro chegar a ponto de alucinar em suas fantasias na ânsia de respostas para o que está acontecendo na relação? Justificar a mentira ou omissão do que está acontecendo, dizendo que o outro não tem estrutura para suportar a verdade, não é mais aceitável, pois o que enfurece uma pessoa não é a verdade, mas as mentiras que se ouve até chegar na verdade.
Nesse momento soma-se ainda: baixa auto-estima, falta de amor-próprio, insegurança, necessidade de reconhecimento. Mas se as crises de ciúmes já viraram rotina na relação, é possível fazer algo para mudar.
Não há alternativas senão a busca por uma mudança interna, que só é possível através do auto-conhecimento, onde o mais indicado é sempre a busca de um profissional competente para se iniciar um processo de psicoterapia, ou ainda, os grupos de auto-ajuda.
É preciso entender que um pode ser muito importante para o outro, mas não mais importante que para si mesmo.
Não é possível amar ao outro mais do que nos amamos. Todos se orgulham muito de ter alguém para amar, mas não se preocupam nenhum pouco com a importância vital que há em relação ao próprio amor.
Quando a relação é vivida com amor e os dois querem mantê-la, é possível buscar um tratamento e transformar o que é doente em saudável. E para começar esse processo, é importante: - Admitir que não está conseguindo ter controle sob suas emoções.- Escrever sobre os próprios sentimentos - ajuda a compreender o que está sentindo.
Buscar ajuda de um profissional.
Auto-conhecimento.- Reconhecer que a relação está doente, como reflexo de um ou dos dois.- Reconhecer que os dois devem mudar.- Conversar, conversar, conversar. O diálogo deve estar sempre presente.- Verbalizar o que sente, sempre.- Empatia, ou seja, desenvolver a capacidade de se colocar no lugar do outro.- Respeitar os sentimentos do outro, ainda que não os sinta. -
A verdade, sempre.
Cada um fazer uma análise do seu histórico de vida, principalmente infância.- Buscar possíveis origens das dificuldades atuais.- Comprometer-se consigo mesmo com as mudanças.- Demonstrar diariamente para o outro o quanto é importante.- Cuidar de si como cuidaria de alguém que ama.- Cuidar do outro como se cuida de alguém que ama.- Cuidar da relação afetiva como que cuida de um bebê, com atenção, afeto, carinho, enfim, com demonstrações diárias de amor.
Faça uma análise de seus próprios sentimentos em relação a si mesma, e as possíveis origens de sua insegurança, depois analise seu relacionamento, como ele está e como gostaria que fosse e converse tudo isso com seu parceiro, você e ele só têm a ganhar!
Rosemeire Zago
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