"Vença a si mesmo e terá vencido o seu próprio adversário." (Provérbio japonês)



“Presos ou soltos, nós, seres humanos, somos muito cegos e sós. Quase nunca conseguimos transcender os nossos estreitos limites para enxergar os outros e a nós mesmos sem projetar o nosso próprio vulto na face alheia e a cara dos outros na nossa.”

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terça-feira, 16 de junho de 2009

Solidão

                                

                                    Estar só  é diferente de ser solitário.
                     














*"Existe uma diferença entre o isolamento, a reclusão e o estado de profunda solidão. O homem interiormente só não ergue barreiras para se proteger, não interpõe obstáculos entre si e os outros. Ele se conserva só em si mesmo, ou seja, liberado das exigências, dos lugares-comuns, das opiniões diversas que atravancam o espírito."





 
                 "Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia"
                        [Nietzsche]



                                         O que é solidão?
                                                                         

Trechos do livro Solidão e Liberdade do psicólogo Jadir Lessa

"O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) afirma em 'Ser e Tempo' que estar só é a condição original de todo ser humano. Que cada um de nós é só no mundo. É como se o nascimento fosse uma espécie de lançamento da pessoa à sua própria sorte. Podemos nos conformar com isso ou não. Mas nos distinguimos uns dos outros pela maneira como lidamos com a solidão e com o sentimento de liberdade ou de abandono que dela decorre, dependendo do modo como interpretamos a origem de nossa existência. A partir daí podemos construir dois estilos de vida diferentes: o autêntico e o inautêntico."   

"O homem se torna autêntico quando aceita a solidão como o preço da sua própria liberdade. E se torna inautêntico quando interpreta a solidão como abandono, como uma espécie de desconsideração de Deus ou da vida em relação a ele. Desse modo não assume responsabilidade sobre as suas escolhas. Não aceita correr riscos para atingir seus objetivos, nem se sente responsável por sua existência, passando a buscar amparo e segurança nos outros. Com isso abre mão de sua própria existência, tornando-se um estranho para si mesmo, colocando-se a serviço dos outros e diluindo-se no impessoal. Permanece na vida sendo um coadjuvante em sua própria história. Você já pensou nisso?"



"Sendo autêntico você assume a responsabilidade por todas as suas escolhas existenciais, aceita correr os riscos que forem necessários para atingir os seus objetivos, e passa a encontrar amparo e segurança em si mesmo. Com isso, apropria-se da existência, torna-se indivíduo, torna-se autônomo, torna-se dono da sua própria vida, dono da própria existência, torna-se senhor de si mesmo. Você se percebe sendo o senhor de si mesmo?"

Angústia  

"A angústia provocada pela solidão é o sentimento que muitas pessoas experimentam quando se conscientizam de estarem sós no mundo. É o mal-estar que o ser humano experimenta quando descobre a possibilidade da morte em sua vida, tanto a morte física quanto a morte de cada uma das possibilidades da existência, a morte de cada desejo, de cada vontade, de cada projeto."
"Cada vez que você se frustra, que você não se supera, que você não consegue realizar seus próprios objetivos, você sente angústia. É como se você estivesse morrendo um pouco."
"Muitas pessoas sentem dificuldade de estarem a sós consigo mesmas. Não conseguem viver intensamente a sua própria vida. Muitas vezes elas acreditam que o brilho e o encantamento da vida se encontram no outro e não nelas mesmas. Sua vida tem um encantamento, um brilho, algo de especial porque é sua, apenas sua. Independentemente do que você esteja fazendo, sua vida pode ser intensa, prazerosa, simplesmente pelo fato de ser sua e por você ser único. Cada um de nós pode ser uma pessoa especial para si mesmo."

Solidão:  a Condição do Ser

"A solidão é a condição do ser humano no mundo. Todo ser humano está só. Esta é a grande questão da existência, mas não significa uma coisa negativa, nem que precise de uma solução definitiva. Ou seja, a solução não é acabar com a solidão, não é deixar de sentir angústia, suprimindo este sentimento. A solução não é encontrar uma pessoa para preencher o vazio existencial, não é encontrar um hobby ou uma atividade. A solução não é se matar de trabalhar e se concentrar nisso para não se sentir sozinho. Também não é encontrar uma estratégia para driblar a solidão. A solução é aceitar que se está só no mundo. Simplesmente isso. E sabendo-se só no mundo, viver a própria vida, respeitar a própria vontade, expressar os próprios sentimentos, buscar a realização dos próprios desejos. Quando se faz isso, a vida se enche de significado, de um brilho especial."
"O objetivo não é fingir que a solidão não existe, não é buscar a companhia dos outros, porque mesmo junto com os outros você está e sempre será solitário.  O outro é muito importante para compartilhar, trocar. O outro é muito importante para a convivência, mas não para preencher a vida, não para dar sentido e significado à uma outra existência. A presença do outro nos ajuda, compartilhando, mostrando a parte dele, dando aquilo que não temos e recebendo aquilo que temos para dar, efetivando a troca. Mas o outro não é o elemento fundamental para saciar a angústia ou para minimizar a condição de solidão."  
"Cada um de nós nasceu só, vive só e vai morrer só." 
"A experiência de cada um de nós é única. O nascimento é uma experiência única, pois ninguém nasce pelo outro. Da mesma forma que a morte é uma experiência única, pois ninguém morre pelo outro. E a vida inteira, cada momento, cada segundo da existência, é uma experiência única pois ninguém vive pelo outro."




Conquistar segurança interna através do exercício constante do auto-conhecimento e da auto-afirmação. Tornar-se autônomo e correr seus próprios riscos, assumindo o sofrimento dos erros e fracassos e o sabor dos acertos e vitórias. O homem que não escolhe individualizar-se vive fingindo que é uma abelha, repetindo-se metódica e sistematicamente. Sua vida é previsível, rotineira e monótona. Este é o homem ansioso, deprimido ou apático. Ele é alienado! Ele não é livre nem acredita que possa libertar-se. É dependente! Não conta consigo mesmo. Não sabe que tudo na vida é relativo e passageiro. Tem pouca auto-estima e frágil auto-confiança. É escravizado! Não tem vontade própria. Realiza a vontade dos outros e não a sua. Seu projeto de vida é elaborado pelos outros.

É robotizado! Dá sempre uma resposta programada pelo outro. Reproduz um rígido modelo determinado socialmente. Segue padrões pré-estabelecidos. É carente e inseguro! Quer que o outro lhe dê garantias, segurança e estabilidade; no casamento, no emprego e nas relações sociais. Não sabe que a garantia que lhe dão é ilusória e que a segurança externa e a estabilidade constituem o pior risco, porque têm o preço da sua liberdade. É acomodado! Escolhe o pouco garantido pelo outro ao muito que dependa de suas próprias conquistas ou que envolva algum risco. Prefere a apatia da rotina ao dinamismo do amor. É derrotista e derrotado! Não aceita correr riscos. Quer que o outro decida por ele e se arrisque em seu lugar. Quando o outro aceita, acaba ficando com as vantagens para si. É irresponsável! Não se conhece e não se determina. É ingênuo! Acredita que pode agir como uma abelha e ainda assim ser feliz. É inexistente! Sua vida é uma simulação! Para ele a vida é um teatro!

Independentemente dos diversos caminhos que cada um pode seguir na vida, existe uma decisão inicial a ser tomada, um ponto de partida que pode determinar o rumo ou o sentido de toda a existência humana: a escolha de se ter uma vida autêntica ou inautêntica." "Penso que a escolha da vida autêntica pode nos trazer a possibilidade da construção do poder pessoal, caracterizado pela busca do fortalecimento interno e expresso nos sentimentos de segurança, paz, felicidade e realização pessoal. E que a escolha da vida inautêntica pode nos trazer a possibilidade da construção do poder político, caracterizado pela busca de prestígio e de reconhecimento público, a custa do enfraquecimento interno, expresso nos sentimentos de insegurança, intranqüilidade, frustração, ressentimento e infelicidade." "Ouvimos muito falar do poder. Algumas pessoas se envolvem diretamente na busca pelo poder. Outras permanecem de fora, alheias em relação a isso. Destaco duas formas de poder: o poder pessoal e o poder político."  "Para dominar os outros e construir o poder político é preciso que você se torne inautêntico e desenvolva a capacidade de se impor, controlando e manipulando as outras pessoas. Para dominar a si mesmo e construir o poder pessoal é preciso que você se torne autêntico e desenvolva a capacidade de se autodeterminar. Você se autodetermina?" "O filósofo francês René Descartes (1596-1650), disse: “Penso, logo existo”. O filósofo existencialista dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) contrapôs-se a Descartes afirmando: “Sinto, logo sou”. E o filósofo existencialista alemão Martin Heidegger (1889-1976), destaca em Ser e Tempo as características fundamentais da existência humana: o Sentimento, o Pensamento e a Linguagem. Para ele as pessoas podem ser autênticas ou inautênticas tanto no pensamento quanto no sentimento. E com a linguagem fazem a articulação e a integração dos pensamentos com os sentimentos."

"É muito importante que você saiba pensar. Isso Descartes nos ensinou muito bem. Também é muito importante que você saiba sentir. Isso Kierkegaard deixou bem claro. Mas foi Heidegger quem fez a síntese reconhecendo a importância de se ter um conhecimento profundo e uma visão clara, tanto dos pensamentos quanto dos sentimentos, de modo a expressá-los numa linguagem vigorosa." "É muito importante que você saiba reconhecer, compreender e expressar seus próprios pensamentos e sentimentos. E acima de tudo, que aceite cada um deles como sendo legítimos. Aprendendo a fazer isso você aumenta o seu poder." "Acredito que a maior demonstração de poder que existe no mundo é o poder ser. Poder ser talvez seja mais importante do que ter dinheiro, prestígio, status, reconhecimento ou controle sobre os outros. Talvez seja o poder que as pessoas mais buscam, mesmo quando não sabem que o estão buscando. O adolescente, por exemplo, quando se revolta contra os pais, quando  critica, agride, quando procura ser diferente, ele está fazendo o quê? Ele está lutando pelo poder! Sim, ele está lutando por poder ser diferente! Está lutando para ser ele mesmo! Os pais muitas  vezes querem que ele seja igual a um modelo idealizado por eles. Os pais geralmente escolhem o que querem que o filho seja. Eles querem o melhor para seus filhos. Mas acabam muitas vezes lhes impondo o que é melhor para eles mesmos, sem levar em consideração o que os filhos pensam ou sentem. De uma certa forma o processo de educação é distorcido e reduzido a ensinar o filho a ser aquilo que eles querem que ele seja. E é muito natural que o adolescente se revolte contra isso. É muito natural que ele se rebele contra e atitude autoritária de impedi-lo de ser quem ele é e de negar-lhe o direito de correr seus próprios riscos e de fazer as suas próprias escolhas."

"Estamos acostumados a ver as pessoas lutando para conseguir dinheiro, prestígio, status, reconhecimento ou controle sobre os outros. Mas elas não buscam tudo isso como um fim em si mesmo. Buscam como um meio para atingirem o que realmente querem da vida. No fundo as pessoas querem apenas ter o poder de ser elas mesmas e sentirem-se amadas sendo como são." "A Psicoterapia Existencial pode ajudá-lo na construção de seu poder pessoal. Ajudá-lo a se tornar mais autêntico, mais autônomo e autodeterminado. Muitas pessoas podem conseguir isso. O Psicoterapeuta Existencial trabalha no sentido de ajudá-lo a desenvolver sua autenticidade e ampliar seu poder pessoal. Trabalha no sentido de proporcionar a seu cliente a oportunidade de tornar-se mais concentrado, mais compromissado consigo mesmo, mais seguro, mais contínuo e mais interessado em se aprofundar e crescer nas suas próprias coisas, em estabelecer projetos de vida e lutar para realizá-los." "O Psicoterapeuta Existencial é um profissional que está preparado para identificar tudo o que você pode revelar de inautêntico, tanto ao nível do sentimento quanto do pensamento e ajudá-lo a se tornar mais autêntico. Ele sinaliza suas atitudes inautênticas e pergunta se é isso  mesmo o que você quer ser. Ele sinaliza quando você se desconhece ou se perde de si mesmo, quando você se mostra disperso, quando você é descontínuo, quando você se expressa de modo ambíguo ou equivocado, quando você se mostra curioso no lugar de interessado, quando você se torna tagarela. Ele investiga qual é o seu propósito na vida e o ajuda a identificar a intencionalidade de suas atitudes. Ele pode ajudá-lo a identificar o modo como você experimenta todos os sentimentos em conseqüência da maneira como interpreta o fato de estar só no mundo: como abandono ou liberdade. E percebe se você busca amparo e segurança em si mesmo ou nos outros e nas instituições."
"Você gostaria de sentir-se mais responsável e compromissado com a própria existência? Gostaria de sentir mais interesse pelas próprias coisas? Gostaria de ser mais concentrado e de ter mais continuidade na realização de seus projetos? Gostaria de ser mais seguro em suas atitudes? Gostaria de sentir-se mais confiante para fazer escolhas e tomar decisões? Sim? Então você quer conquistar mais poder pessoal! Mas não se esqueça que você precisa cuidar disso todos os dias. Porque a cada dia seu poder pessoal pode ser construído ou desconstruído. A cada dia você pode aumentar ou diminuir o seu poder pessoal." "Você aprendeu um pouco de como aumentá-lo lendo este artigo. Poderá aprender mais lendo o livro "A Construção do Poder Pessoal". E poderá aprender ainda mais procurando um Psicoterapeuta Existencial e começando o seu processo de psicoterapia. Vá em frente! Vá contigo! Boa sorte!


Psicólogo Jadir Lessa
Psicoterapeuta Existencial
Autor dos livros Solidão e Liberdade e A Construção do Poder Pessoal


Tema: Ficar (bem) sozinho




Certa vez almocei, em Recife, com um juiz famoso por ser muito ponderado e justo. “Ele é quase um sábio”, diziam as pessoas. Durante a conversa do agradável almoço, ele me contou que estava se preparando para, pela segunda vez, percorrer o famoso caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Quando indaguei sobre o que o motivava a refazer tal aventura, ele me disse, calmamente: “É que ainda deixei alguns assuntos pendentes comigo mesmo”.

  

A resposta do juiz teve sobre mim um efeito revelador, impactante, violento, quase um soco no estômago, pois naquele momento pensei sobre quantos assuntos eu, provavelmente, tinha pendentes em minha vida. Então, na viagem de volta usei as horas de vôo para fazer uma lista de tais pendências, com o cuidado de relacionar as pessoas a quem as mesmas se referiam. Isso foi fundamental, pois tomei um imenso susto: o sujeito principal de minhas pendências, que não eram poucas, era eu mesmo. Era a mim que eu devia a maioria das explicações, respostas e justificativas. Era eu mesmo que estava do outro lado da linha do telefone imaginário, enquanto eu - o outro eu - dizia, como um atendente de telemarketing emocional: “Vou estar transferindo sua pergunta para o Universo. Por favor, aguarde e não perca a esperança. Sua ligação é muito importante para nós”.
Olhei pela janela do avião e comecei a refletir que, se a conversa com meu amigo magistrado não me convenceu a passar um mês caminhando pelo interior da Espanha, com certeza criou em mim um forte desejo de viajar por meu próprio interior, percorrendo o caminho dos meus valores, subindo as colinas dos meus medos, visitando os vales dos meus sonhos. Percebi que era essa a viagem que eu estava precisando fazer, para a qual não existem roteiros pré-formatados nem guias turísticos disponíveis. Naquele momento eu estava viajando a cerca de 900 quilômetros por hora, e não pude evitar a lembrança de uma frase de R.W. Emerson: “O que está atrás de nós e o que está à nossa frente são coisa pouca, comparados com o que está dentro de nós”.
Viagem rumo ao interior
Quando examinei ainda mais de perto a proposta dessa viagem interior, entendi que ela era importante por dois motivos: primeiro porque, enquanto eu não encontrasse a paz interior, carregaria os conflitos para onde quer que eu fosse, o tempo todo. Segundo porque a qualidade das relações com as outras pessoas depende, a priori, da qualidade da relação que eu estabeleço comigo mesmo. Bingo! Estou precisando ficar um pouco sozinho, travando duros, mas necessários, diálogos interiores. Pousei em São Paulo carregando na bagagem o firme propósito de me dedicar mais a mim mesmo.
Pois é, mas como? Essa é a pergunta que vale 1 milhão. Como criar uma relação interna se as relações externas demandam muito de nosso tempo? Como conversar comigo mesmo sem ser atrapalhado pelos ruídos exteriores, cada vez mais fortes? Como dizer ao resto do mundo: “Agora não posso, estou ocupado comigo mesmo!”?
Deduzi que precisava ter disciplina para estar mais tempo em minha companhia. E, para isso, foi necessário criar oportunidades para estar só, sem precisar viajar para o Tibete nem percorrer o caminho de Santiago. É uma questão de pragmatismo. Estar só, não por imposição, mas por opção, é a única chance em que o estar só não se transforma em um sofrimento, nem faz surgir aquele sentimento maldito de abandono e de desespero. Lembrei-me, então, da época em que fiz terapia, e a psicóloga me dizia: “Você está aqui comigo para se encontrar com você mesmo. Eu sou apenas o caminho, o meio, mas não terei nenhum valor se você não chegar ao fim da jornada, ao seu interior, sozinho”. E não é que ela tinha razão, a danada? Eu ia ao seu consultório para ficar sozinho, para me encontrar comigo mesmo, e não para visitá-la.
Pois é, às vezes nós precisamos do outro até para ficarmos sozinhos. Essa aparente incongruência é uma herança de nossa história humana, em que a sobrevivência de cada um dependia do grupo. Ainda depende, mas o coletivo às vezes faz o contrário, e acaba matando o individual. É quando você perde o valor de sua própria essência e passa a ser apenas parte de um todo. Nesse caso, seus valores são os valores do grupo, seus sonhos são sonhados em conjunto, seus medos são compartilhados porque são comuns. E você é levado pela onda e deixa de ser você mesmo, uma vez que não se dá o direito de ficar só, e, aliás, nem acha que isso tem alguma importância. Cuidado! Você pode estar com a síndrome do coletivismo, que faz a pessoa sentir-se segura apenas quando está acompanhada. Equivale a ter medo de si mesma.
Por isso, até em respeito ao outro, precisamos criar os momentos para estarmos apenas conosco, sem depender de outras pessoas; ou apesar delas. Há meios clássicos, como retiros, mosteiros e templos das várias religiões, mas eles são apenas isso ­ meios. De nada adiantarão se você não criar a consciência do estar só, que é diferente de ser solitário. Aliás, entender essa diferença é o primeiro passo.





Só, mas não solitário
Em inglês há um recurso lingüístico para entendermos essa sutileza. Recorrendo à língua de Shakespeare, encontramos duas palavras distintas: loneliness e aloneness. Parecem sinônimos, mas não são. Traduzindo, loneliness quer dizer exatamente solidão, a condição de estar isolado, desacompanhado, solitário, abandonado. É triste estar em loneliness! Já aloneness tem um sentido positivo ­ significa que você está isolado, sim, mas porque você decidiu se isolar. Significa estar em companhia de si mesmo com algum objetivo nobre, como refletir, meditar, acalmar-se.
O interessante é que a primeira situação pode ser obtida independentemente de se estar ou não afastado de pessoas. O habitante de uma grande cidade, cercado por milhares ou até milhões de pessoas, pode estar no mais profundo estado de loneliness. É possível ser um solitário até convivendo e dormindo com outra pessoa ­ que é o pior dos castigos. Na outra mão, buscar um estado de solidão voluntária, estar em aloneness, pressupõe dar um tempo nas relações, o que pode acontecer até dentro de casa, naquele momento em que você pede - e é entendido - para permanecer quieto, em seu canto.
A grande vantagem de estar só é a ausência de interferências. Quando estamos acompanhados, ainda que por apenas uma pessoa, nosso pensamento receberá, necessariamente, a influência do pensamento do outro. E isto é bom, pois as interações ampliam os conceitos, aumentam a compreensão, enriquecem a cultura, esclarecem as dúvidas. Até aí, tudo bem, mas que é necessário interromper a ligação um pouco, para decantar as idéias, ninguém questiona. O poeta indiano Rabindranat Tagore, ganhador de Nobel, disse, a respeito de estar só: “Nunca ninguém se perdeu; tudo é verdade e caminho”. Para o poeta pensador, estar só é parte da estratégia da vida para nossa evolução.
Pensando bem, foi quando estava só que eu tive os grandes momentos de inspiração, tomei as principais decisões de minha vida, cheguei mais fundo na análise de minhas angústias, experimentei o prazer de minhas certezas. É quando estou só que a leitura faz mais efeito e a escrita flui com naturalidade. Sozinho, percebo que a música está tentando me fazer companhia. Foi na imensa solidão de meu pequeno quarto de adolescente que decidi que iria dedicar-me a algo que envolvesse a alma humana.
Amo imensamente minha mulher, tenho uma família em que os membros se apóiam e se curtem, possuo uma legião de amigos alegres e disponíveis. Sou dessas pessoas privilegiadas que podem se dar ao luxo de estar com alguém em todas as ocasiões. Mesmo assim, preciso da solidão, da aloneness redentora. É claro que a solidão seria imensamente angustiante se não tivéssemos o poder de interrompê- la buscando a companhia de alguém. Pois, da mesma maneira, a convivência com pessoas também seria uma maneira certa de produzir angústia, não fosse a possibilidade de ficarmos a sós, oportunamente.
O paradoxo da solidão
A escritora Lya Luft poetizou que “a solidão é um campo tão vasto que não deve ser atravessado a sós”. Pois quando li esse pensamento pela primeira vez, eu me dei conta do valor de tal campo. Tenho o hábito de me lembrar das pessoas que amo quando estou vivenciando um momento de grande prazer ou felicidade. Não consigo, por exemplo, não pensar em minha Lu, a companheira de sempre, quando um pôr-dosol se descortina inadvertidamente diante de meus olhos. Pois é o que sinto quando estou em um momento de extrema paz comigo mesmo. Está tão perfeito este momento que eu adoraria reparti-lo com quem amo.
Só então me dou conta do contrasenso da situação. Em minha solidão só caibo eu. Ou melhor, eu e meus sonhos. Aqueles dos quais fazem parte tantas outras pessoas, sem as quais a vida não teria sentido. Mas o momento de sonhar é um momento de concha, de casulo ­ um momento de estar só. Sim, pois até o sonho que se sonha junto, como queria Raul Seixas, começa com um sonho que se sonha só.
O paradoxo da solidão é que ela nos prepara para a convivência. Estar só é promover a recarga para estar junto. Sim, pois, ao conviver plenamente consigo mesmo, um homem aprende que precisa do outro para ser completo. Uma vez que somos anjos de uma asa só, e só voamos em conjunto, precisamos, antes, cuidar de nossa asa. Assim faremos nossa parte. A parte em que nos doamos por inteiro, porque inteiros estamos.


Eugenio Mussak é educador e escritor. Neste espaço, faz reflexões a partir de inquietações levantadas pelos leitores. Envie suas dúvidas para:pensandobem@abril.com.br
Copiado do  site : vidasimples  



Voar  Para a Felicidade-mesmo estando só.

Rose Lima


Do lado de um imenso muro de pedras voava um pássaro, como sempre sozinho, pensando na sua eterna solidão.Do outro lado do mesmo muro outro pássaro também voava e lamentava o seu interminável  isolamento. Mas do alto de uma nuvem, bem acima de qualquer muro, dois anjos observavam a cena. Um dos anjos comentou: - Veja que maravilha! Que sincronismo de vôo! Isto é o verdadeiro amor. O outro anjo questionou: - Será que eles nunca se encontrarão? O primeiro anjo respondeu: - É claro que sim. Olhe, lá adiante, o fim do muro. Todo muro tem um fim. E completou: - Mas se eles se arriscassem a voar mais alto, acima do muro, poderiam se encontrar hoje mesmo..." O ser humano é como os pássaros, nascem livres para voar,  dirigir seu destino, encontrar seu caminho, buscar o amor,  perder  o medo  de ser feliz, preencher  a vida  de forma útil ;  Ninguém se torna um eterno solitário por acaso,  seja um empreendedor  de  si  mesmo,  se você se sente  incomodado com algo que não vai bem,   mude  sua rota,   conheça novos caminhos,  faça escolhas,  procure se conhecer melhor, você tem muito que  voar, muito que aprender, muito  prá viver... 

Seja  feliz como os pássaros,  nessa viagem em  busca  do seu "EU",  encontre  momentos de paz...  Voar bem  alto para ir  ao  encontro  da   Felicidade,   é  o começo de uma  nova experiência, é  começar  a se amar de verdade.



Seja o Cisne

Seja o Cisne Talvez o maior desafio da vida moderna seja sermos nós mesmos em um mundo que insiste em modelar nosso jeito de ser. Querem que deixemos de ser como somos e passemos a ser o que os outros esperam que sejamos. Aliás, a própria palavra "pessoa" já é um convite para que você deixe de ser você. "Pessoa" vem de "Persona", que significa "máscara". É isso mesmo: coloque a máscara e vá para o trabalho. Ou vá para a vida com a sua máscara. Talvez o sentido do elogio: "Fulano é uma boa pessoa", signifique na verdade: "Ele sabe usar muito bem a sua máscara social". Mas qual o preço de ser bem adaptado? O número de depressivos, alcoólatras e suicidas aumenta assustadoramente. Doenças de fundo psicológico como síndrome do pânico e síndrome do lazer não param de surgir. Dizer-se estressado virou lugar-comum nas conversas entre amigos e familiares. Esse é o preço. Mas pior que isso é a terrível sensação de inadequação que parece perseguir a maioria das pessoas. Aquele sentimento cristalino de que não estamos vivendo de acordo com a nossa vocação. E qual o grande modelo da sociedade moderna? Querer ser o que a maioria finge que é. Querer viver fazendo o que a maioria faz. É essa a cruel angústia do nosso tempo: o medo de ser ultrapassado em uma corrida que define quem é melhor, baseada em parâmetros que, no final da pista, não levam as pessoas a serem felizes. Quanta gente nós não conhecemos, que vive correndo atrás de metas sem conseguir olhar para dentro da sua alma e se perguntar onde exatamente deseja chegar ao final da corrida?



Basta voltar os olhos para o passado para ver as represálias sofridas por quem ousou sair dos trilhos, e, mais que isso, despertou nas pessoas o desejo de serem elas mesmas. Veja o que aconteceu a John Lennon, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Isaac Rabin? É muito perigoso não ser adaptado! Essa mesma sociedade que nos engessa com suas regras de conduta, luta intensamente para fazer da educação um processo de produção em massa. A maioria das nossas escolas trabalha para formar estudantes capazes de passar no vestibular. São poucos os educadores que se perguntam se estão formando pessoas para assumirem a sua vocação e a sua forma de ser. Quantos casos de genialidade que foram excluídos das escolas porque estavam além do que o sistema de educação poderia suportar. Conta-se que um professor de Albert Einstein chamou seu pai para dizer que o filho nunca daria para nada, porque não conseguia se adaptar. Os Beatles foram recusados pela gravadora Deca! O livro "Fernão Capelo Gaivota" foi recusado por 13 editoras! O projeto da Disney Word foi recusado por 67 bancos! Os gerentes diziam que a idéia de cobrar um único ingresso na entrada do parque não daria lucros. A lista de pessoas que precisaram passar por cima da rejeição porque não se adaptavam ao esquema pré-existente é infinita. A sociedade nos catequiza para que sejamos mais uma peça na engrenagem e quem não se moldar para ocupar o espaço que lhe cabe será impiedosamente criticado. Os próprios departamentos de treinamento da maioria das empresas fazem isso. Não percebem que treinamento é coisa para cachorros, macacos, elefantes. Seres humanos não deveriam ser treinados, e sim estimulados a dar o melhor de si em tudo o que fazem. Resultado: a maioria das pessoas se sente o patinho feio e imagina que todo o mundo se sente o cisne.



Triste ilusão: quase todo mundo se sente um patinho feio também. Ainda há tempo! Nunca é tarde para se descobrir único.Nunca é tarde para descobrir que não existe nem nunca existirá ninguém igual a você. E ao invés de se tornar mais um patinho, escolha assumir sua condição inalienável de cisne!

Roberto Shinyashiki-Escritor
É médico-psiquiatra com pós-graduação em Gestão de Negócios (MBA - USP) e doutor em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (USP). Profundo conhecedor da alma humana, ele tem a capacidade de entender a realidade e as necessidades dos indivíduos, isso faz de Shinyashiki uma referência em temas como carreira, felicidade e sucesso.

Podemos interpretar a solidão tanto como abandono quanto como liberdade. A escolha é, e sempre será sua.

                                                                                                     

 













Do livro PRINCÍPIOS DE VIDA - Tradição Indígena Norte-Americana. Organização de Jean-Paul Bourre.


2 comentários:

  1. Rejane minha amiga, boa noite!

    Estou aqui em "altas horas" vendo o seu blog, porque com certeza tenho muito a aprender com ele e por que não dizer com você, que me deu a oportunidade de desfrutar de assuntos extremamente interessantes e construtivos. Obrigada por essa oportunidade! Bjs!

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  2. Betaniaaaaaaaaaaaa cadê você amiga? estou com saudades viu? um bjãooooooo

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Muito obrigada pela visita.
Volte sempre!!
Rejane

Textos no arquivo :

"Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma... Todo o universo conspira a seu favor!" - Goethe "Sou sempre eu mesma,mas com certeza não serei a mesma para sempre!" Clarice Lispector

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"Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma... Todo o universo conspira a seu favor!" - Goethe





"Sou sempre eu mesma,mas com certeza não serei a mesma para sempre!"



Clarice Lispector